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ॐAdriano Portoॐ

Sei muito pouco…mais sinto demais! Tanto que em mim mora um turbilhão de pensamentos e emoções... Sou simples.... e na minha simplicidade eu cultivo pessoas grandiosas ao meu lado... Gosto de sentir o chero di mato, da terra molhada,o perfume da Fada que me namora, sentir a brisa na praia... e devorar um sonho dentro da minha alma, óh alma, minha vida... Sou apaixonado pela música, pela poesia...pela cor...pela fantasia e por tudo que o mundo pode me oferecer...

segunda-feira, novembro 13, 2006

O Poeta e o Pássaro


Num dia matutava eu inspirado
debaixo de uma árvore topei com um passarinho
e ele me perguntou interessado:
_ O que faz um poeta ai sozinho ?

Pensando – disse a ele - ora vês !
Meus pensamentos são muitos á girar,
mas o que te importa meus afazeres
não devias tá tu com os outros á voar ?!

Não, tatu não voa – disse e ciscou cantarolante .
Fez pose de elegante e voou
pousou no meu ombro um instante
e um fio do meu cabelo arrancou.

_Mas que abusado,
não tem medo de pedra ?
Já tô ficando irritado
vou lhe dar uma queda !

Por que não fica ai cantarolando,
e me deixe aqui na minha ?
Afinal, nunca vi pássaro falando,
só vejo pássaro que pia .

Mas eu falo, Poeta, não me ouve ?
Ou já está maluquiando tão novinho ?!
E por mais que, ao vento, voe
vou continuar lhe perseguindo.

Eu tenho uma missão, Seu Poeta.
na verdade sou um feiticeiro transformado
e venho trazendo da minha terra
sua porção de vento encantado.

Tome aqui – e soprou o feitiço em mim.
Nisso, subiu uma nuvem de poeira do chão
que me levou num arrastão
e pelo vento fui tomado

E ele do meu lado dizia:
_ Verbo, versinho tão combinado
escorre cada pausa palavrinha
até que o Poeta ouça musicado
e caia na letra, linha após linha

rimas e versos adeptos a canção
assim serás Poeta, assim serás cantor
para que seus dedos toquem flauta e violão
e sua voz tenha tom de encantador...

E assim se fez
suspenso no ar, solto me eis
flutuando sorvia todo meu cansaço.
Fui carregado por um passarinho,
e lá repousei, ouvindo os bemóizinhos
das canções do Príncipe Livrepássaro.

Passo a passo siga-me,
como em nuvens, disse-me.
A pé ante pé faz-se caminhar.
Mande o vento levar-lhe ao alto
e aprenda com os pássaros leveza e salto
e assim, voe como por sobre o mar.

Quem pensa a sós, de sábio eu trato,
e também de mago Branco será vossas ações.
Cantar a multidões vais na sua caminhadura
estou vozeando, e para que sejas melhor
fazei um círculo e, ao meu redor,
colha toda inspiração e me deixe a sua.

E desde esse dia pra cá
aprendi a cantar, compor e tocar
flauta e violão
e não esqueci mais
nem daquele pássaro, nem daquela paz

que senti em meu coração
fazendo e ouvindo, respirando refrão,
de música e de poesia
como naquele dia
da minha benção...

Passou-se um tempo.

Ainda outra vez, eu na sonolência
de escuras árvores, sozinho,
ouvi batendo, como em cadência,
um tóc, dois tóc, bem de mansinho.
Fiquei desatento, fechei a cara-
mas afinal me deixei levar
e por ser um poeta que nem repara,
em tóc-tóc me ouvi falar.

E vendo o verso cair cadente
sílabas sonoras saltando fora,
tive que rir, rir, de repente
e ri por um bom quarto de hora.

E eis que uma voz me indagou:
“Tu um Poeta, ou tu um cantador?
Em verso Poeta, ou em poética musical ?”
E eu – “Sim, meu Senhor, sois um Poeta,
e tu, será que és um pica-pau ?!”

Um homem velho da árvore desceu
era o feiticeiro que me enfeitiçou
e trazia na mão um fio do meu cabelo
que uma vez, de pássaro, me arrancou.

Sorriu, me deu a mão, e sumiu.
Mas haveria de voltar, um dia, quem sabe ?
E o mais fascinante é que depois, mais tarde
quando fui pegar o fio de cabelo do chão
o vento soprou
e aquele fio do meu cabelo, na mão
se transformou
numa linda pena pequena daquela ave...


*Algumas frases foram extraídas da poesia e ensaio do jovem crítico literário
de São Paulo NIETZSCHE “Canções do Príncipe Livrepássaro”
poemas de 1882-1884, na edição de 1886.*